Face a todas as alterações económicas e sociais que a pandemia Covid-19 originou, os organismos internacionais da área das bibliotecas estudam e exploram os contributos das bibliotecas para a "nova normalidade" e de que forma o seu papel se torna essencial na reconstrução de um mundo melhor. Assim, quer a IFLA, quer a EBLIDA, exploram o que devem ser as agendas das bibliotecas no período pós Covid-19 em termos de contributos e de "advocacy".

Depois de explorar as potenciais tendências que moldarão o mundo das bibliotecas à medida que se vai regressando à "nova normalidade" (parte 1 do blog "Now and Next 1") a IFLA explora agora (na parte 2 do blog "Now and Next 2") a Agenda de Advocacy das bibliotecas como parte integrante dos planos de recuperação social e económica da crise Covid-19, a curto, médio e longo prazo:
A curto prazo: manter o contacto, fornecer apoio a pesquisas e manter as atividades possíveis online, criando alternativas digitais para acesso a conteúdos.
a) Os orçamentos deverão incluir verbas para aquisição de licenças, disponibilização de wifi gratuito e empréstimo de dispositivos e equipamentos pelo menos aos grupos mais vulneráveis;
b) Garantir o acesso à informação e a notícias verdadeiras, promovendo a literacia dos media e da informação;
c) Garantir a Proteção de Dados e Cibersegurança contra violações de privacidade e de utilização de dados pessoais, sobretudo na crescente dependência de ferramentas online.
d) Ciência Aberta: ampliar e apoiar as iniciativas de práticas de ciência aberta provocadas pela necessidade de combate ao Covid-19.
e) Promover atividades de animação atendendo especialmente àquelas que dependem de performances com a presença física de público, apoiando o setor cultural;
A médio prazo: reabertura faseada, levantamento de restrições com segurança.
A reabertura dos espaços das bibliotecas deverá ser feita com regras e normas de segurança firmes para a utilização dos espaços, sobretudo daqueles onde é mais normal haver interação social.
a) Apoiar os estudantes ajudando à recuperação das matérias;
b) Veicular informações e factos claros e verdadeiros;
c) Garantir a continuidade no apoio àqueles que irão continuar sujeitos a restrições, como idosos, pessoas com deficiências, grupos carenciados, etc..
d) Capacitar as bibliotecas de recursos que lhes permitam responder às necessidades de novos utilizadores, vítimas da crise (novos desempregados, sem-abrigo, etc.).
e) Proteger a privacidade dos utilizadores, garantindo que nenhuma informação é coletada e retida além do estritamente necessário, nomeadamente no uso potencial de aplicativos de rastreamento.
f) Promover a Ciência Aberta e investir na capacidade de interoperabilidade, fortalecendo as infra-estruturas e os recursos e permitindo que os investigadores trabalhem globalmente em diferentes áreas de estudo.
A longo prazo: reconstruir melhor após pandemia
a) Garantir que a legislação de direitos de autor se adequa à era digital, distinguindo usos digitais e não digitais uma vez que, no período de crise, muitas bibliotecas tiveram de confiar na boa vontade dos titulares dos direitos e não na legislação para poderem continuar a cumprir a sua missão;
b) Como parte essencial da infraestrutura social das suas comunidades, para além de promover o seu bem-estar como espaços e centros culturais, as bibliotecas também podem atuar como plataformas e parceiros nos esforços para apoiar o emprego, o empreendedorismo e a educação. Assim, as bibliotecas devem integrar as estratégias governamentais relevantes a todos os níveis, e serem mobilizadas para reconstruir vidas, sociedades e economias;
c) Garantir o acesso à informação e ao conhecimento: investigadores, imprensa e público devem ter acesso às informações necessárias para que possam participar plenamente de uma vida democrática saudável;
d) A pandemia veio sublinhar a vulnerabilidade de muitos grupos cujas condições de vida, meios de subsistência ou outras características, os tornaram mais suscetíveis às suas consequências. As bibliotecas devem continuar a promover a inclusão e o bem-estar de todos seguindo políticas pró inclusivas e pró equidade;
e) Contribuir para atingir uma conectividade universal promover as literacias digitais e garantindo que cada vez mais pessoas estão aptas a utilizarem a Internet nas suas necessidades quotidianas;
f) Integrar os sistemas de informações de saúde pública, adaptando mensagens e informações sobre saúde de forma a que obtenham maior impacto na comunidade;
g) A Ciência Aberta deve passar e ser a norma, com investimentos significativos em plataformas, reformas nas estruturas de avaliação e reconhecimento para garantir liberdade de fontes e fornecedor a investigadores e leitores.
Por sua vez a Eblida, também empenhada e comprometida em apoiar as bibliotecas europeias na crise post-Covid 19, lançou o Relatório “Preparing a European Library Agenda for the Post-Covid 19 Age”, que identifica as 5 questões chave da "nova normalidade" que mais irão afetar as bibliotecas e onde estas mais poderão contribuir:
✔️a smarter Europe
✔️a greener, carbon free Europe
✔️a more connected Europe
✔️a more social Europe,
✔️a Europe closer to citizens
Atendendo a que a estratégia irá obrigar a fundos adicionais, preparou também um documento com o objetivo de apoiar as bibliotecas para a canalização de fundos europeus estruturais e de investimento, o "Paper EBLIDA ESIF" (FEEI) centra-se nos principais objetivos deste fundo que, aliás, entroncam nos objetivos específicos do FEDER/FSE+, sendo o seu objetivo apoiar as bibliotecas a conseguirem canalizar fundos adicionais para as suas atividades, ajudando-as na adaptação ao "novo normal".
1. Distanciamento social: "a well-connected two-meter library";
2. Novas formas das tecnologias alterarem e moldarem as bibliotecas;
3. Composição e revisão dos orçamentos das bibliotecas num cenário económico desconhecido;
4. Governança das bibliotecas a nível central e local;
5. Desafios e oportunidades das alterações climáticas e da sustentabilidade.
O documento descreve ainda o quadro normativo do FEEI e o modo de funcionamento quanto à sua implementação e apresenta ainda uma série de quadros que relacionam os objetivos específicos do FEEI com projetos de boas práticas para a implementação dos ODS nas Bibliotecas.
O Covid-19 é o atual foco das atenções, no entanto não nos podemos esquecer que existem outros desafios que o mundo enfrenta atualmente, como as alterações climáticas e os restantes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 cujas prioridades nos impelem a garantir que não apenas voltemos ao normal, mas que sejamos melhores do que anteriormente.