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Procura Avançada
16 Encontro da RNBP
 

“As (novas) missões das bibliotecas públicas - Para que serve uma biblioteca pública, hoje?”

A Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), em colaboração com o município de Ferreira do Zêzere, através da sua Biblioteca Municipal, organizou o 16º Encontro da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, dias 8 e 9 de novembro de 2023.

Reforçando a ideia de mudança das bibliotecas ao longo da história e da sua necessidade em alargar o espectro de ação a todos os públicos, transformando estes equipamentos municipais em espaços abertos a toda a comunidade e alargando o foco ao trabalho nas diferentes literacias, Ana Elisabete Ferreira, Vereadora da Câmara Municipal de Ferreira do Zêzere, este ano a nossa anfitriã do Encontro RNBP, sublinhou a importância da motivação dos profissionais como fonte de qualidade e enriquecimento dos serviços, com resultados para os cidadãos. Referiu ainda que a gestão da mudança deve ser encarada como fator de melhoria para o desenvolvimento dos territórios e das populações, devendo as bibliotecas públicas incentivar a comunidade a participar e partilhar a construção de um espaço que é de todos e para todos.

Efetivamente, este 16º Encontro acontece num momento fulcral, já que em 2022 foi atualizado o Manifesto da IFLA/UNESCO sobre as Bibliotecas Públicas, abrindo uma nova perspetiva sobre o seu papel, identificando-as como agentes de desenvolvimento sustentável e espaços acessíveis no acesso à informação, à cultura e de participação cívica.
 
O novo Manifesto elenca 11 missões para as Bibliotecas Públicas, que ampliam e modernizam as missões da versão anterior, além de avançar com indicações para financiamentos, legislação e redes, funcionamento e gestão, parcerias e implementação de projetos. É dado ênfase aos recursos e competências digitais e a temáticas contemporâneas emergentes como: inclusão, literacia mediática, preservação e acesso à informação, acesso e participação cultural de comunidades marginalizadas, povos indígenas e pessoas com deficiência.
 
Também em 2022, foi aprovado o novo Plano de Trabalho da União Europeia para a Cultura (2023-2026) incluindo pela primeira vez uma ação dedicada às bibliotecas, reconhecendo o seu importante contributo para a consolidação da democracia e o envolvimento dos cidadãos, para além da sua capacidade em trazer proximidade a grupos diversificados, proporcionando acesso a uma informação plural e fiável.
 
Estamos pois perante um excelente ponto de partida para refletir sobre as tendências essenciais para as bibliotecas, em que oportunidades e desafios devemos apostar, e foi essa a razão da necessidade sentida pela DGLAB de identificar as (novas) missões das bibliotecas públicas, apelando à responsabilidade dos profissionais e responsáveis destes equipamentos públicos para a construção de uma visão conjunta e partilhada dos novos caminhos. 

Reconhecer a oportunidade de capacitar comunidades, de contribuir para o empoderamento do cidadão através do desenvolvimento do seu espírito critico e da participação cívica, são vetores essenciais a considerar.

Da mesma forma, é fundamental olhar as bibliotecas públicas como espaços de debate e de participação cidadã, definindo metodologias de atuação de acordo com as diferenças dos territórios e das necessidades das comunidades, alinhando estratégias de desenvolvimento local e permitindo a apropriação do espaço da biblioteca pública enquanto espaço público e aberto de informação e de conhecimento, onde cabem todos.

No que respeita ao acesso à informação, as parcerias permitem evidenciar e potenciar a capilaridade de uma Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, já enraizada nos territórios, bem como a oportunidade que isso representa para vários públicos no mapa nacional.

Contamos, não só neste encontro, mas sobretudo no terreno, com os contributos de todos os profissionais das bibliotecas públicas para que a nossa missão como DGLAB vos seja cada vez mais útil e pertinente, apoiando-vos no desenvolvimento de novos serviços. 

O programa deste Encontro apostou, desde logo por isso, na metodologia de análise através da realização de workshops onde os profissionais participaram ativamente na discussão em torno de temas tão fundamentais para o desenvolvimento das comunidades como: inovação e sustentabilidade, literacias e inclusão, processos participativos, cidadania e democracia, parcerias e proximidade e ainda em novas estratégias na formação de leitores.
 
A pergunta à qual tentámos responder foi: como podem atuar as bibliotecas públicas para serem relevantes na atual sociedade em constante mudança?

Compreender a biblioteca pública como um serviço público de proximidade às pessoas, que permite o seu desenvolvimento e capacitação, potencia a compreensão da real importância dos seus serviços, coleções e equipas em torno de valências culturais, sociais e recreativas, mas fundamentalmente enquanto espaço de acesso à Informação e ao Conhecimento.
 
Porque as bibliotecas públicas têm de continuar a ser considerados equipamentos públicos essenciais para as comunidades nesse acesso plural a recursos e serviços, bem como espaços de fruição cultural, o seu campo de ação é alargado muitas vezes para zonas nossas desconhecidas, obrigando os seus profissionais a saírem de zonas de conforto na procura das respostas adequadas às necessidades das sua comunidades. É nesta procura que encontramos parceiros capazes de reunir sinergias e levar as bibliotecas a bom porto. Ganham terreno as redes, a colaboração e a cooperação, ganham terreno as novas metodologias e estratégias, ganham as pessoas para as quais trabalhamos. É o tempo de dar contributos para um fim maior, envolvendo as comunidades, desenhando caminhos em conjunto para resolver questões complexas.

Importa salientar que a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas integra atualmente 250 municípios, num total de 437 equipamentos, que partilham e se revêm nos valores, princípios e orientações preconizados no Manifesto da IFLA/UNESCO. Assim, e como forma de reforçar a representatividade das bibliotecas públicas ao nível dos territórios, a DGLAB iniciou em 2017 uma nova estratégia para as bibliotecas da RNBP,  através do apoio à constituição de Redes Intermunicipais de Bibliotecas, que já levou à formalização de 18 Redes Intermunicipais nos últimos 6 anos, faltando a formalização de 5 Redes Intermunicipais para abarcar a totalidade do território de Portugal Continental.

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Na oportunidade, e porque a partilha e promoção de Boas Práticas é um objetivo da DGLAB que honra também a pessoa que pensou a nossa RNBP, a Drª. Maria José Moura, à semelhança do que tem acontecido em anos anteriores, o Dr. Silvestre Lacerda, Diretor-Geral da DGLAB, procedeu à entrega do Prémio Maria José Moura – Boas Práticas em Bibliotecas Públicas Municipais, dos projetos da edição 2021. Nessa edição, o júri decidiu atribuir o Prémio à candidatura “Cacifo de Leituras”, da Biblioteca Municipal de Pombal, reconhecendo ainda duas Menções Honrosas aos projetos  “Hora do Conto On-line Inclusiva com tradução em LGP”, da Biblioteca Municipal de Palmela, e “AquaLibri – Biblioteca Digital do Cávado”, da Rede Intermunicipal de Bibliotecas do Cávado. Receberam estes prémios os representantes dos municípios premiados, bem como a representante da Comunidade Intermunicipal do Cávado. Convidamos à consulta da nossa página sobre a edição 2021 deste prémio. 


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Porque é através de encontros e colaborações que conseguimos chegar mais longe, convidámos alguns dos nossos parceiros a participar na Mesa-redonda «As Novas Literacias em Bibliotecas Públicas» , moderada por Bruno Duarte Eiras, Subdiretor da DGLAB: Daniela Cardoso, da Iniciativa Portugal INCoDe.2030, Bruna Afonso, da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) e Plano Nacional de Formação Financeira, que infelizmente não conseguiu estar presente. Cada um na sua esfera e área de atuação, reconheceram a potencialidade das bibliotecas públicas no contributo para um objetivo comum que é a capacitação e envolvimento das pessoas no desenvolvimento das sociedades e futuro da Humanidade.


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Os seis Workshops previstos decorreram da parte da tarde e revestiram-se das mais diferentes formas de participação, tendo, na manhã do dia seguinte sido apresentados os resultados destes trabalhos:

DSC_0860x400.jpgWorkshop Processos participativosFilipa Barros 
Pretendeu-se incentivar uma reflexão do grupo para a urgência em trazer a comunidade aos processos de decisão da biblioteca pública. A importância de incentivar os processos de apropriação do espaço público que é a própria biblioteca. Saber mapear potenciais grupos e percecionar os objetivos a atingir, sejam estes definidos pela biblioteca ou em conjunto com a população-alvo; gerir expectativas de participação e resultados; a urgência de reforçar a “noção de Biblioteca Pública como infraestrutura que estimula a democracia, capaz de incentivar a participação cidadã, e de apoiar a criação de políticas públicas de proximidade”. A biblioteca pública “como sala de estar da comunidade” onde pensamos e debatemos, aprendemos e partilhamos uns com os outros, evoluindo enquanto sociedade democrática.




399260481x400.jpgWorkshop Cidadania e Democracia – Ana Santos
Procedeu-se à desconstrução do conceito de democracia e ao papel do cidadão na sua defesa, desenvolvimento e concretização no quadro do estabelecido nos textos da Constituição da República Portuguesa e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Que papel devem as bibliotecas desempenhar neste processo? Que metodologias de gestão e decisão podem ser assumidas no plano interno que promovam maior participação e representatividade na definição das estratégias de ação? Formas de acesso e apropriação dos espaços da biblioteca pelas comunidades locais, programação de espaços e oferta de atividades. A importância dos processos participativos para a perceção da utilidade e valorização dos serviços das bibliotecas públicas enquanto espaços de vida democrática.



399526722x400.jpgWorkshop Literacias e Inclusão – Aida Alves
Os participantes foram convidados a expressar a sua visão dos conceitos através de imagens e palavras-chave. A partir desta mapa de palavras, a reflexão conjunta foi orientada com recurso a alguma informação previamente sistematizada pela dinamizadora, tendo motivado os participantes a partilhar as vivências das suas bibliotecas nas áreas das literacias e da inclusão, assim como à definição conjunta das necessidades e competências que as bibliotecas públicas devem adquirir para o desenvolvimento de atividades, como sejam, o estabelecimento de parcerias, a formação especializada das equipas, a identificação das carências da comunidade e a empatia com os utilizadores.




400601664nx400.jpgWorkshop "Novas estratégias para a formação de leitores" - Jorge Silva
Os participantes foram convidados a revelarem como e em que circunstâncias se tornaram leitores, o que funcionou como ponto de partida para a reflexão sobre estratégias de formação de leitores. Devido ao elevado número de participantes e de participações não houve oportunidade para um nível de aprofundamento do tema como se pretendia neste grupo de reflexão, evidenciando a necessidade de continuar a apostar na discussão e debate sobre a forma como entendemos as estratégias e como definimos novas e urgentes, formas de atuação.



399239090nx400.jpgWorkshop Parcerias e Proximidade – Cristina Caetano e Sandra Pinto
A reflexão foi bastante participada, resultado da metodologia adotada e da relação de à vontade que se estabeleceu entre dinamizadoras e participantes. Com recurso a post-its, papel de cenário e com a disposição da sala em “U”, cada participante foi obrigado a pensar não no que faz habitualmente, mas naquilo que nunca pensou vir a fazer: projetos e parcerias improváveis. Discutiu-se também a necessidade de haver foco, leitura da realidade local e envolvimento da comunidade, o que obriga a conhecê-la, a sair para a rua, a dar voz às "pessoas comuns" (e não só aos utilizadores da biblioteca), a ler jornais locais, etc., não esquecendo nunca que o foco dos projetos e das parcerias são as necessidades e interesses da comunidade e não aqueles que as bibliotecas, fechadas sobre si próprias, consideram ser os importantes.




399495699nx400.jpgWorkshop Inovação e sustentabilidadeJoanna Whitfield
A metodologia utilizada neste workshop foi baseada em desafios e jogos que obrigaram os participantes a novas e inesperadas reflexões.  Pensar conceitos de maior amplitude como "inovação" e "sustentabilidade" obriga a que nos reposicionemos e, a partir do “local” tentemos definir pequenos passos e projetos que possam construir novas atitudes e criar novas visões perante estes temas.




Mesa-redonda «Desenvolvimento Local: o que podem fazer as bibliotecas públicas», por Lia Vasconcelos (Nova FCT - Plataforma ODSLocal) e Sandra Dias (DGLAB)

A importância do envolvimento das comunidades para alcançar as metas do desenvolvimento sustentável, a capacidade de funcionamento das bibliotecas como espaços de reunião e debate, envolvimento em projetos comuns, partilha de interesses e de novas construções e desconstruções, escala a visibilidade e o valor das bibliotecas que se poderão constituir como parceiros privilegiados das comunidades, alinhados e contribuindo para a definição de estratégias e políticas de locais de desenvolvimento. Foi referida a pertinência da inscrição de projetos e boas práticas na Plataforma ODSLocal, plataforma que funciona como uma ferramenta para avaliação e monitorização dos indicadores selecionados por cada município aderente. Aceda aqui à apresentação.


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A Vereadora Ana Elisabete Ferreira procedeu, com o Subdiretor-geral da DGLAB, ao encerramento dos trabalhos e, referindo-se à urgência de passarmos da reflexão à prática, citando "O Recreio" de Mário de Sá-Carneiro, alertou para que amanhã já é o dia de trabalhar e de olhar para as nossas bibliotecas e comunidades à luz das mais valias e reflexões que resultaram deste Encontro.

Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...

E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...

Se a corda se parte um dia
(E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...

Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...

Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...

Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive...

O Subdiretor da DGLAB, por sua vez, e referindo a importância dos valores explanados na última versão do Manifesto da IFLA/UNESCO sobre Bibliotecas Públicas, exortou as bibliotecas públicas a identificarem no texto do Manifesto as áreas de intervenção a que verdadeiramente conseguem dar resposta, de forma a adaptarem-se às novas necessidades das comunidades que servem, «quando todos os espaços, serviços e instituições procuram adaptar-se», referiu, «não podem as bibliotecas públicas ficar para trás, presas a conceitos, ideias e memórias que hoje já têm pouca relação com a vida quotidiana. Se nos inícios da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, alguém a apelidou de “revolução silenciosa”, agora urge demonstrar a sua existência, presença, relevância e importância, procurando responder afincadamente ao mote do encontro: “Para que serve uma biblioteca pública, hoje?” e evidenciando com orgulho fazemos parte deste projeto com quase 4 décadas e para o qual tantos contribuíram.

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Apelou ainda aos participantes do Encontro que demonstrassem o seu apoio contra a situação ocorrida nas Bibliotecas Municipais de Vila Franca de Xira, onde um grupo de cidadãos tem procurado limitar e censurar o trabalho da biblioteca pública tanto no que diz respeito às coleções como às atividades desenvolvidas, em total contradição do que é defendido no Manifesto da UNESCO sobre a necessidade de evitar a existência de qualquer tipo de censura, sendo o princípio mais elevado das bibliotecas públicas oferecer o acesso a informação, a coleções e a serviços livres de qualquer forma de censura ideológica, política ou religiosa.

A DGLAB, enquanto órgão coordenador da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, afirma-se veementemente contra qualquer tentativa de censurar ou limitar a missão e os valores da biblioteca pública, enquanto espaço de acesso livre à informação e ao conhecimento, ausente de qualquer tipo de censura, devendo pautar-se sempre pelos valores, da liberdade e da democracia.

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Por fim, não queremos deixar de lamentar que nem todos tenham conseguido assegurar a sua participação neste Encontro que foi limitado a 120 participantes, mas acreditamos no "passa palavra" entre colegas para que rapidamente as mensagens e reflexões cheguem a todos.

Na oportunidade, agradecemos mais uma vez a disponibilidade de todos que colaboraram connosco, na organização, participação e apoio, que tornou possível fazer acontecer este Encontro, acolhido de forma excelente pelo Município de Ferreira do Zêzere.

Deixamos o link para o registo fotográfico deste nosso 16ª Encontro, no Flickr da RNBP (em breve contamos poder disponibilizar nos nossos canais de comunicação a gravação do mesmo).

16º Encontro da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas - Ferreira do Zêzere




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Última Actualização em: 21-11-2024